Se você não conhece pelo menos três pessoas que “lançaram um curso online” nos últimos dois anos, talvez esteja vivendo em uma bolha… mas fora da internet.
A nova corrida do ouro do século XXI parece não envolver picaretas, mas sim infoprodutos. E os mineradores dessa vez são nutricionistas, fisioterapeutas, advogados, coaches de tudo e mais um pouco, além de designers, professores e, claro, aquele seu amigo que medita de manhã, fala de produtividade à tarde e ensina a ficar rico à noite.
A pergunta que não quer calar — ou melhor, que todo algoritmo quer responder — é: o boom dos cursos online como renda para autônomos é uma bolha ou uma realidade consolidada?
Spoiler: depende. Mas vamos com calma, que aqui o papo é sério, embora não pareça.
O curso online virou o novo “abre um negócio próprio”
Durante muito tempo, o sonho do autônomo brasileiro foi abrir um ponto físico. Hoje, o sonho tem trilha sonora de marketing digital, promessa de faturamento em seis dígitos e uma área de membros no Hotmart.
Com a pandemia, o ensino digital explodiu. O brasileiro, que sempre teve talento para ensinar e improvisar, descobriu que poderia transformar conhecimento em produto. E não só conhecimento técnico, mas experiência de vida, vivência de profissão, habilidades de nicho. Deu certo. Em parte.
Criar cursos online virou um dos principais caminhos de monetização para quem trabalha por conta. A promessa é sedutora: escalabilidade, ticket médio alto, liberdade geográfica, autoridade no nicho… Só faltou avisar que também envolve jornada do herói, tráfego pago e saber que “copy” não é só um comando de computador.
Mas pera: tem espaço pra todo mundo?
A lógica de mercado responde com um velho bordão: tem espaço pra todo mundo… desde que você saiba o que está fazendo.
A verdade é que o boom dos cursos online tem duas faces: de um lado, uma revolução que democratiza o acesso à renda para autônomos e especialistas. Do outro, uma multiplicação desenfreada de promessas vazias, templates reciclados e gurus vendendo fórmula pra vender fórmulas.
Se isso soa como uma bolha… é porque em parte é. Toda nova fronteira do mercado passa por esse estágio inflado, até que a espuma baixe e o que fica é a entrega de valor real.
Os dados confirmam: cursos online são sim uma realidade
E não é só percepção: segundo dados da Associação Brasileira de Educação a Distância, o setor de infoprodutos e EAD cresceu mais de 300% nos últimos cinco anos. Plataformas como Hotmart, Eduzz e Kiwify movimentam bilhões anualmente — e grande parte disso vem de autônomos transformando saberes em renda.
Cursos sobre Excel, organização financeira, culinária vegana, violão, marketing, costura criativa, precificação para artesanato, yoga, sono infantil… tudo isso virou produto digital.
A diversidade de nichos mostra que o mercado de cursos online como renda para autônomos está longe de ser um hype passageiro. Mas isso não significa que está fácil.
A diferença entre ganhar dinheiro com curso e só lançar curso
Aqui mora o pulo do gato (e o motivo de tanta frustração): criar um curso não é o mesmo que ter resultado com ele.
Muitos autônomos acreditam que basta colocar o conhecimento no ar e esperar o Pix. Mas o jogo exige mais: funil de vendas, conteúdo gratuito para gerar autoridade, tráfego, branding, jornada do cliente, suporte pós-venda… e energia para lidar com reembolso de quem “não se conectou com a proposta”.
Quem entra nesse mercado achando que vai “ganhar dinheiro dormindo” costuma acordar com boleto do RD Station e o curso encalhado. Mas quem entende o jogo e entrega algo real, resolve uma dor específica e se comunica com clareza… esses estão se dando bem.
Estamos vivendo uma bolha? Sim. Mas não como você pensa
Bolhas especulativas são ciclos naturais em novos mercados. A do curso online já inflou — talvez ainda infle um pouco mais. Mas diferente da bolha das criptomoedas ou dos imóveis em 2008, aqui não se vende vento puro: vende-se (ou deveria-se vender) conhecimento, transformação e método.
Ou seja, não é o curso online que é bolha — é a ilusão de que qualquer um vai enriquecer com ele sem entender nada de mercado, copywriting ou dor do cliente.
Recapitulando, com café e sem marketing:
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Os cursos online são sim uma fonte legítima de renda para autônomos, principalmente pós-pandemia;
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Há uma super oferta e muitos conteúdos repetidos ou de baixa qualidade;
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Ainda assim, o mercado continua crescendo, impulsionado pela busca por especialização e autonomia;
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O que separa o sucesso da frustração é a entrega de valor real e a capacidade de se comunicar com uma audiência;
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Não é bolha — é filtro natural do mercado agindo sobre uma oportunidade real.
Conclusão
Se o seu plano é criar um curso online para complementar ou substituir a renda como autônomo, a hora é agora — mas vá com estratégia, não com pressa. O boom não vai durar para sempre, mas o conhecimento verdadeiro sempre vai ter valor. A diferença é que agora, ao invés de só ensinar na sala de aula, você pode ensinar para o mundo inteiro. Desde que, claro, o mundo queira te ouvir.