O Banco Central do Brasil (BC) determinou nesta terça-feira, 18 de novembro de 2025, a liquidação extrajudicial do Banco Master e de outras três instituições de seu conglomerado. A decisão encerra as atividades da instituição no Sistema Financeiro Nacional (SFN) e ocorre em meio a uma grave crise de liquidez, deterioração financeira e violações às normas bancárias.
A medida foi formalizada no mesmo dia em que o consórcio liderado pela Fictor Holding havia apresentado uma proposta de compra e um dia após a prisão do presidente do banco, Daniel Vorcaro, pela Polícia Federal.
O que Significa Liquidação Extrajudicial?
A liquidação extrajudicial é um regime de exceção decretado pelo Banco Central que tem como objetivo encerrar as atividades de uma instituição financeira que não tem mais condições de operar.
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Encerramento das Atividades: O banco deixa de funcionar e de integrar o Sistema Financeiro Nacional.
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Assunção do Controle: Um liquidante (neste caso, a EFB Regimes Especiais de Empresas) assume a gestão, fecha as operações e vende os bens remanescentes.
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Pagamento dos Credores: O liquidante tem a responsabilidade de pagar os credores (incluindo investidores e correntistas) na ordem prevista em lei, até que a instituição seja extinta.
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Interrupção de Negociações: Qualquer negociação de compra ou venda (como a proposta da Fictor) é automaticamente suspensa.
A liquidação do Banco Master se justifica, segundo o BC, pelo comprometimento da situação econômico-financeira, com deterioração da liquidez e infringência às normas que disciplinam a atividade bancária.
🔍 O Pano de Fundo: Problemas e Tentativas de Venda
A crise do Banco Master estava ligada a um alto custo de captação e a investimentos considerados arriscados, sendo investigado por:
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Captação Agressiva: Emissão de títulos de renda fixa, como CDBs, oferecendo taxas muito superiores à média do mercado.
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Investimentos Arriscados: Histórico de compra de precatórios e investimento em empresas em dificuldade.
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Suspeitas de Fraude: A Polícia Federal investiga a venda de títulos de crédito falsos, emitidos sem lastro e liquidez comprovada.
Tentativas Frustradas de Aquisição
Antes da liquidação, o Master foi alvo de tentativas de compra:
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BRB (Banco de Brasília): Anunciou uma proposta de aquisição de 58% do capital total do Master em março, mas o negócio foi barrado pelo Banco Central em setembro por ausência de documentos que comprovassem a “viabilidade econômico-financeira”.
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Fictor Holding Financeira: Apresentou uma proposta de aquisição, com aporte imediato de R$ 3 bilhões, na véspera da decretação. Após a prisão do controlador, o grupo anunciou a suspensão da operação, que dependia da aprovação do BC.
⛓️ Prisão do Controlador e Crimes Investigados
Na noite anterior à liquidação, a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, no Aeroporto de Guarulhos, sob a acusação de tentar fugir do país. A prisão ocorreu durante a Operação Compliance Zero.
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Objetivo da Operação: Combater a venda de títulos de crédito falsos e a possível fabricação de carteiras de crédito sem lastro.
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Crimes Investigados: Gestão fraudulenta, gestão temerária, organização criminosa, entre outros.
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Ativos Bloqueados: Com a decretação do regime especial, os bens dos controladores e ex-administradores do banco foram bloqueados. O Banco Central informou que seguirá apurando responsabilidades, o que pode levar a sanções administrativas.
📉 Como Ficam Correntistas e Investidores?
O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é acionado para proteger os clientes do banco liquidado.
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Cobertura: O FGC garante o saldo de correntistas e investidores em produtos como CDBs, RDBs, LCIs, LCAs e depósitos em conta corrente ou poupança, até o limite de R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição.
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O que não é Coberto: Investimentos como Debêntures, CRIs, CRAs e Fundos de Investimento não são garantidos pelo FGC e entram integralmente na fila de credores da liquidação.
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Excedente: Valores acima de R$ 250 mil não são cobertos e também entram no processo de liquidação, cuja recuperação dependerá da venda de ativos do banco.
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Solicitação: O ressarcimento pelo FGC é solicitado pelo aplicativo do Fundo (para pessoas físicas) ou pelo site (para pessoas jurídicas), após o liquidante enviar a lista de credores ao FGC (processo que levou cerca de 30 dias em liquidações recentes).
