Quando o dono vira o buraco no caixa
Você já deve ter ouvido (ou vivido) isso: o negócio vai bem, as vendas acontecem, os boletos são pagos… mas você termina o mês sem dinheiro. Parece que o cliente foi atendido, o fornecedor recebeu, a conta de luz foi paga — só quem não se pagou foi quem fez tudo isso acontecer.
Se você é autônomo, profissional liberal ou dono do próprio negócio, definir o seu pró-labore é uma das tarefas mais importantes da sua vida financeira. E também uma das mais ignoradas.
Neste artigo, vamos entender o que é pró-labore, como calcular, quanto tirar e por que isso muda o jogo para sua saúde financeira.
O que é pró-labore (e o que ele não é)
Pró-labore é o nome chique do salário do dono. É a remuneração mensal fixa que você define para pagar a si mesmo pelo trabalho executado no negócio.
Mas atenção:
❌ Não é lucro.
❌ Não é “o que sobrou no final do mês”.
✅ É uma despesa fixa da empresa, assim como aluguel, internet e contador.
Pensar no pró-labore como salário fixo te ajuda a profissionalizar sua gestão e separar você da empresa.
Por que o pró-labore é tão importante
Sem um pró-labore definido, o autônomo vive em modo de caça e consumo: quando entra grana, gasta; quando não entra, aperta. Isso:
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Prejudica o planejamento pessoal
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Mistura as finanças da empresa com a do dono
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Deixa a pessoa vulnerável a meses ruins
Pior: passa a impressão (falsa) de que o negócio é lucrativo, quando na verdade ele só sobrevive porque o dono não se paga.
Como calcular seu pró-labore ideal
1. Descubra seu custo de vida real
Comece pelas suas contas pessoais:
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Moradia (aluguel, condomínio, etc.)
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Alimentação
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Transporte
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Saúde
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Lazer
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Reserva e investimentos
🧮 Soma total = valor mínimo que você precisa todo mês para viver com dignidade.
Esse número é a base do seu pró-labore.
2. Entenda a realidade da sua empresa
Agora olhe para o negócio:
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Quanto entra por mês, em média?
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Quais são os custos fixos e variáveis?
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Existe sazonalidade?
Seu pró-labore precisa caber no fluxo de caixa real da empresa, sem colocar a operação em risco.
💡 Dica prática: use ferramentas como Conta Azul, Granatum ou uma planilha automatizada com IA no Notion para ver esses dados com clareza.
3. Equilibre necessidade com viabilidade
Aqui entra o ponto de equilíbrio. Você precisa alinhar:
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Quanto você precisa
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Quanto a empresa consegue bancar
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Quanto vale o seu trabalho
Se a conta não fechar, não adianta forçar: melhore a performance da empresa antes de aumentar o pró-labore. E sim, isso pode significar começar com um valor abaixo do ideal por alguns meses — mas com um plano claro para crescer.
Modelos práticos para calcular o pró-labore
🧾 Modelo 1: Fixo com base no custo de vida
Ideal para quem quer previsibilidade e consegue manter um fluxo de caixa estável. Ex: R$ 3.500/mês fixo.
📈 Modelo 2: Fixo + variável (participação no lucro)
Você define um salário fixo + um bônus mensal ou trimestral com base no lucro líquido.
Exemplo: R$ 2.500 fixos + 20% do lucro no trimestre.
💰 Modelo 3: Percentual da receita bruta
Mais comum entre freelancers ou quem tem receita imprevisível.
Exemplo: definir que 30% da receita do mês vai para o pró-labore.
⚠️ Atenção: use esse modelo só se tiver boa disciplina para manter caixa e pagar custos antes de se pagar.
E o INSS no pró-labore?
Se você contribui como empresa (PJ ou MEI), o pró-labore precisa entrar na contabilidade formal. Isso significa:
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Recolher INSS como contribuinte obrigatório (normalmente 11% sobre o valor do pró-labore, limitado ao teto do INSS).
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Emitir contracheque/recibo (se tiver contador).
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Ter o valor declarado para futuras aposentadorias ou benefícios.
✅ Isso também ajuda na comprovação de renda — especialmente para quem quer financiamento, visto internacional ou crédito.
E se eu tirar só “quando dá”?
Essa é a receita para o caos. Quando o autônomo se paga “só quando sobra”, ele:
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Não consegue planejar a própria vida
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Compromete a empresa em meses apertados
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Vive com estresse e ansiedade financeiros
💡 Profissionalizar o pró-labore muda tudo: você deixa de ser funcionário do acaso e vira gestor de si mesmo.
Pró-labore não é luxo. É sobrevivência.
Se pagar todo mês, com valor justo e dentro da realidade da sua empresa, é o que te permite:
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Viver com mais segurança
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Ter clareza sobre o real lucro da empresa
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Crescer sem colocar sua vida pessoal em risco
O erro é pensar que “o que é do dono é da empresa” — quando, na verdade, o dono precisa se pagar para a empresa crescer de forma saudável.
Quer ajuda para calcular seu pró-labore?
👉 Leia nosso artigo complementar: Como separar finanças pessoais e profissionais sendo autônomo
